12 setembro 2011

 
(Homenagem ao pensador e jurista italiano, falecido em 26-7-2000, e à época desta conferência -SC febbraio 1986-, presidente do Juizado de menores de Milão. Edição e tradução: Jean Lauand) Adolfo Beria di Argentine

Ao procurar compreender as razões profundas pelas quais a sociedade atual tem tanta aversão ao sofrimento, parece-me válido afirmar que tais razões se encontram na perda da virtude da paciência: a capacidade de suportar as tensões intermediárias da vida.

Como foi justamente afirmado, se não me engano por Levinas, a sociedade moderna aprisionou-se numa opção sem saídas: bem-estar pleno ou a morte. Ou, em outras palavras, já não somos suficientemente fortes para suportar as tensões intermediárias.

De fato, impressiona-me cada vez mais a incapacidade de tantos, principalmente dos jovens (mas não só deles...), para aceitar tensões intermediárias:

- Um casamento não pode ter problemas: ou é maravilhoso, ou se desfaz;

- Um trabalho não pode ter suas dificuldades: ou é gratificante, ou muda-se de emprego;

- Um amizade não pode ter momentos difíceis: ou é total, ou torna-se indiferença ou ódio;

- O empenho social não pode ser a paciente construção de uma sociedade melhor: ou é rapidamente triunfante, ou é confinada na utopia, refugiando-se no âmbito da própria vida privada;

- A formação não pode ser a gradual transformação da própria cultura: se não há resultados imediatos, o melhor é interromper os projetos;

- Uma iniciativa empresarial não pode ser lenta em seu estabelecimento: ou abre caminho prontamente, ou é abandonada;

- Uma reforma - do tipo que for - não pode dar frutos a longo prazo: ou é mirabolante, ou imediatamente deve ser sufocada por uma reforma da reforma.

Poderíamos continuar exemplificando indefinidamente, mas penso que está claro o sentido do que quero dizer: não estamos mais habituados ao esforço, ao sofrimento das tensões intermediárias, e isto porque: ou perseguimos uma plenitude inatingível ou mergulhamos na depressão e na ruína. Não se pode aplicar a nós a bela sentença de Primo Mazzolari: "Tudo é esperança porque tudo é esforço". No entanto, devemos recordar sempre aquele versículo: "E dão fruto na paciência".

Mas, como todos sabem, paciência vem de patior, um verbo que indica sofrimento. Se queremos dar fruto, devemos aceitar um pouco de tribulação, de paciência e de sofrimento.

Teci essas considerações porque considero oportuno falar do sentido do sofrimento. Não em termos de sua aceitação sentimental, piegas ou vitimista, mas em termos positivos, de contínua revisão de nossos posicionamentos, atitudes e critérios quotidianos. Somente quando formos capazes de suportar as tensões intermediárias em nossas vidas (no trabalho, no casamento, nas amizades) aprenderemos o sentido da paciência, do "dar fruto" nos pequenos e grandes sofrimentos.

Uma tal afirmação poderia, para muitos, parecer voluntarista - e, em parte sê-lo-ia - se não chegássemos a dar um passo a mais em termos de compreensão da realidade.

E o passo adiante que proponho é no sentido de uma redução da subjetividade, que, já há algum tempo, impera na sociedade atual.

Não aceitar as dificuldades de um casamento, de um trabalho, de uma amizade, de uma empresa, significa não compreender que tudo na vida é um processo objetivo e não apenas uma experiência subjetiva.

O esforço (ou, se se preferir, a paciência como sofrimento) está ao serviço do objeto que se constrói - um negócio ou um casamento - através de um lento processo de criação, administração, controle dos problemas e dos impulsos individuais dos que estão envolvidos na realidade de que se trate.

Se ao invés de nos centrarmos no objeto, estivermos totalmente voltados para o modo como subjetiva e emotivamente sentimos a experiência do eu naquele objeto, então a medida do valor e do comportamento recai na esfera subjetiva e facilmente escorrega para o dilema do "tudo ou nada". Se o sofrimento for considerado somente como experiência de algo duro e exigente, então não deve causar espanto a recusa ou a fuga; se, pelo contrário, é um fator indispensável para a construção daquilo que devemos e queremos fazer, então deixa de ser subjetivamente incompreensível e (portanto) insuportável.

Vivemos numa sociedade de alta subjetividade que, cada vez mais, submete os fenômenos e os comportamentos à lógica subjetiva: a vida, o casamento, a autoridade, a morte assumem relevo subjetivo, tornam-se fenômenos nos quais a experiência subjetiva passa a ser decisiva, sem que se chegue a compreender a diferença que realmente existe entre fenômeno e direito subjetivo. Isto é, nem sempre a carga de subjetividade que permeia um fenômeno ou um comportamento individual pode traduzir-se num direito do indivíduo a julgar e decidir por si só com relação ao fenômeno e ao próprio comportamento.

Como juiz de menores - em contato quotidiano com jovens dos mais variados tipos e com múltiplos problemas - sempre me espanto ao ouvir grosseiros chavões como: "A vida é minha e ninguém tem nada com isso", "O corpo é meu, e faço dele o que bem entendo", "O que importa é que eu `estou na minha'", mesmo quando esses grosseiros chavões servem para explicar comportamentos e exigências de jovens drogados, querendo abortar, agredir, etc.

A alta subjetividade atual dá lugar a um justificacionismo cômodo ao mesmo tempo que dramático em sua banalidade.

Nós, adultos, temos a responsabilidade de haver lançado nossos filhos na mentalidade da subjetividade. Mas não lhes demos condições de compreender o peso e os limites dessa subjetividade.

Nos dias de hoje, tudo anda permeado de subjetividade:

- O trabalho, já que todas as novidades do setor (do desenvolvimento do multi-emprego ao do trabalho independente, do part-time e das iniciativas empresariais e profissionais) ligam-se a um forte aumento da carga de responsabilidade do sujeito singular no trabalho;

- O lazer, já que boa parte do tempo livre (das férias exóticas ao desenvolvimento dos mais variados hobbies) apresenta notórias características de subjetividade;

- A cultura, já que toda forma de atividade cultural é vista e avaliada não em termos de uma estética abstrata, mas só enquanto propicia emoções e experiências subjetivas;

- A religião, já que, também nela, busca-se sempre mais a experiência religiosa (ou a religiosidade) do que a verdade da religião, com a conseqüente multiplicação de canais mais ou menos vinculados à experiência religiosa (das místicas e seitas esotéricas às vulgaríssimas auto-absolvições sem confissão sacramental);

- A própria justiça, já que a interpretação subjetiva da norma e de seu significado tornou-se já quase um hábito (e nem sempre só por parte de quem tende a transgredir a norma, mas também, por vezes, de quem tem a obrigação de fazê-la respeitar).

Poderia continuar a listar setores em que se dá uma forte carga de subjetividade, mas penso que o breve elenco acima já é suficiente para manifestar como estamos imersos em dimensões muito subjetivas de nossos problemas, de nossos comportamentos, de nossos próprios valores culturais.

É este dúplice apelo - ao valor do objeto, com relação à crescente subjetividade e ao valor das tensões intermediárias, superando a polaridade dramática do tudo ou nada - o único testemunho de reflexão que pode advir de um magistrado de hoje, isto é, de um profissional que, por definição, deve se ater ao objeto e à objetividade (embora considerando as implicações subjetivas de toda causa que deve julgar); de um homem da magistratura, que paga com esforço, com paciência e com sofrimento a defesa e a construção da justiça.

11 setembro 2011

 
AS LEIS DO UNIVERSO

Post escrito logo após a eliminação do Brasil na Copa de 2006

Então o tão decantado time favorito para ser campeão do mundo de 2006 teve que fazer suas malas. Não dá para negar que esta seleção tem talentos. Mas será que foram bem preparados?

Talvez vocês não saibam, mas pratico uma arte marcial chamada Aikidô e, antes de começarmos ou terminarmos um treino, fazemos uma espécie de prece que diz "Kannagara Tamashii Haemasse" e que poderia ser traduzida como "Vamos agir de acordo com as leis do universo". O que esta prece quer nos mostrar é que, quando não obedecemos as leis da Natureza, somos levados ao desequilíbrio e, consequentemente, ao sofrimento e a dor. Mas, perguntariam vocês, o que isto tem a ver com a seleção e que leis da natureza são estas? Como diria o esquartejador, vamos por partes.

Em primeiro lugar, são muitas as leis da natureza e basta observarmos como ela se comporta e começaremos a entendê-las. Uma das que se aplicam no caso da seleção brasileira é: "O Microcosmo imita o Macrocosmo." Ela nos ensina que os debaixo imitam os de cima. O átomo imita um sistema planetário (núcleo no centro e outros corpos girando em volta), os filhos imitam os pais, o povo imita seus governantes, os funcionários o chefe e assim por diante. Ora o que vimos em nossa chefia. Apatia, indecisão, falta de pulso, falta de planejamento. E o que se poderia esperar dos subordinados dentro do campo. A mesma coisa. Lembrem-se que, na seleção de 2006 estavam presentes Dida, Cafú, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Nazário, Kaká, Ricardinho, Gilberto Silva, Lúcio e Rogério Ceni. Ora, então porque deu certo com o Felipão e não como Parreira? Eu não preciso dar a resposta. Basta ver o comportamento dos dois técnicos na beira do campo e a gente já sabe.

Uma outra lei da natureza diz que "Tudo obedece a um plano divino". Está nos livros sagrados de várias religiões. Calma. Não significa que tudo depende da vontade de Deus. Se tirarmos a palavra “divino”, a lei passa a ser "Tudo obedece a um plano". No caso de Brasil, onde estava o plano? Não tínhamos um. Ou melhor, tínhamos. Joga a bola para o Kaká, para o Ronaldinho Gaúcho, para o Adriano ou para o Ronaldo que eles decidem. E isto lá é plano??? Basta ver que os treinos do Brasil sempre foram rachões bem humorados, como se fossem artistas de circo se exibindo para uma torcida encantada ou enfrentando equipes tímidas. Mas, como dizia o sábio Didi: "Treino é treino. Jogo é jogo." E aí , quando precisamos de algo mais do que "macaquices" não tínhamos. Aí tentou-se um Plano B. E justamente numa partida das quartas de final. Só que este plano "B" nunca tinha sido treinado. E deu no que deu.

Agora, uma das mais importantes leis da natureza e que foi brutalmente violada é "Tudo gira em torno de um centro". Basta olhar em sua volta e ver. Não existem dois sóis para que o sistema solar decida sob qual dos dois vai pegar calor hoje. Um átomo, quando divide seu núcleo, cria uma nova célula, se dividindo e seguindo cada núcleo para o seu canto. Até os antigos diziam que "cachorro de dois donos, morre de fome". Bem onde estava o centro do Brasil? Não existia. Até que tentou existir, com o coitado do Lúcio. Mas este não tem competência para tal. Já o da França brilhou. Zidane deitou e rolou sem que ninguém tentasse neutralizá-lo. Ou seja, ninguém atentou para esta lei e o que se viu foi..... deixa prá lá.

Agora nos resta aprender mais esta lição. Não apenas para as futuras copas, mas para verificarmos se, em nossas empresas, estas leis estão sendo cumpridas para que possamos atingir a excelência e, assim, conquistarmos novos clientes, aumentarmos nossa participação de mercado ou consolidarmos nossa posição atual.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?