01 setembro 2006

 


QUEM CONCORDA, COMANDA.


Este artigo foi escrito pelo meu amigo José Xavier Borges Junior e que fiz questão de incluir aqui

Outro dia, assim, repentinamente, eu recebi uma das maiores lições da minha vida. Pude presenciar ao vivo, e em cores, um mestre - ou melhor - uma mestra da persuasão em ação. Não, não, não foi numa escola que presenciei isso, nem em alguma demonstração de rua, ou curso relâmpago que eu tenha feito. Foi na casa de um amigo que vi acontecer. Eu estava hospedado em sua residência no fim de semana em que ministrei, em sua cidade, uma palestra cujo tema era exatamente “A Arte da Convivência”. Esse amigo é uma das pessoas mais teimosas que conheço. Humildade definitivamente não é seu forte, mesmo porque ele tem consciência de que possui uma inteligência brilhante. Evito polemizar com ele sempre que possível, porque é muito difícil ganhar dele numa discussão. Durante o café da manhã do sábado, presenciei a exposição de sua esposa sobre a compra de uma máquina de lavar pratos. Meu amigo começou a contradize-la sobre o tamanho da mesma. Ela achava que deveriam comprar um modelo grande, porque resolveria de uma vez o problema da louça da família por um dia inteiro. Ele achava que deveria comprar um modelo pequeno, porque era mais prática, fácil de manejar, e, sobretudo, por custar menos. Conhecendo o meu amigo, eu já estava me preparando para ouvir uma discussão entre o casal, mas o que ela disse me pegou de surpresa, e acho que ao meu amigo também. - Talvez você tenha razão, disse ela. Eu não tinha analisado esses aspectos da questão! Vou pensar no assunto. A conversa mudou de rumo e, animadamente, trocamos muitas idéias sobre a palestra que eu iria ministrar. Até então, eu nem mesmo notara que haviam me dado uma aula de convivência, bem ali, debaixo do meu nariz. É impressionante como somos distraídos, ás vezes. Após o almoço, quando a louça foi recolhida, ela comentou enquanto lavava os pratos: - Que tamanho você disse que tem a máquina de lavar louça modelo pequeno, querido? - Cabem seis pratos, disse ele. - Será que essa louça toda aqui caberia na máquina? – perguntou ela sem se voltar. Ele olhou para a pilha de pratos, travessas e talheres e teve que admitir: - Sei, não. Acho difícil.
Então pensei: “É isso, ela esperou a melhor oportunidade para lembra-lo das desvantagens do modelo pequeno. Esperei então que ela continuasse com sua linha de argumentos em favor de sua opção, mas para minha surpresa, ela mudou de assunto e começamos a falar sobre amenidades. Seus planos eram outros, como pude ver mais tarde. No dia seguinte, após o término da palestra, ela preparou um lauto jantar, do qual participaram também seus pais, sogros e alguns amigos que haviam me ouvido. Não pude deixar de notar um certo exagero na quantidade de talheres, travessas e pratos que foram disponibilizados, mas só fui perceber que isto foi proposital, quando após o jantar, as mulheres se reuniram para lava a louça. - Vamos lá, disse ela sorrindo, os homens enxugam! E lá fomos nós, em fila indiana, com os panos de prato em riste, para a cozinha. Quando meu amigo viu a pilha de pratos, desanimou. - Vamos atravessar a noite lavando louça, disse ele, meio chateado. - Não se preocupe. A partir de amanhã lavaremos só a metade. A outra metade a máquina lava, disse ela sorrindo. - Nada disso, disse o meu amigo, amanhã vamos ver também a máquina modelo grande. Se a diferença de preço não for muito grande... - Não acredito que a partir de amanhã não vou mais precisar lavar louça, disse ela abraçando-o e dando-lhe um beijo. - Mulheres são fáceis de agradar, piscou meu amigo para mim, enquanto ela se afastava. Eu estava boquiaberto, ao perceber como ela planejara sua estratégia de persuasão. Não teve pressa, não insistiu. Simplesmente deixou-se levar, criando situações que demonstrassem seus argumentos. E ainda fez meu amigo pensar que estava no comando da situação. Uma redonda e completa vitória.

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